sábado, 22 de dezembro de 2007

O momento mais feliz da minha vida!

Uma coisa é ouvir, ler, ver à distância, tomar conhecimento através de outros. "É assim, ou é assado, ou é cozido e estufado...".
Mas outra coisa, bem diferente, é viver algo na pele, enquanto protagonista ou parte activa num acontecimento que nos ficará na memória, até ao fim dos nossos dias. E então sentimos como é que tudo é, na realidade. E podemos dizer "eu sei!", "eu estive lá!", "eu vivi isto!".
Hoje, sábado, dia 22 de Dezembro de 2007, pelas 16h30, vivi o momento mais feliz da minha vida! Nasceu a minha filha. A Xica veio ao mundo e respirou pela primeira vez.
Sabem aqueles momentos como vemos nos filmes, em que as cenas da vida desfilam aos nossos olhos a uma velocidade estonteante? Pois foi exactamente isso que me aconteceu. Num nanossegundo, o Alfa e o Ómega da minha existência até aquele momento passaram pela minha cabeça. Vapt-vupt! Se calhar, é o que nos acontece quando morremos, não sei. Mas sei que foi o que senti quando atingi o momento mais importante e mais feliz dos meus 32 anos, 1 mês e 27 dias de existência. Mas enfim, deixemo-nos de mariquices filosóficas, senão ainda perdem o pouco respeito que têm por mim, eheheheh...

Ora bem, isto de parto a termo certo é complicado para a alma e para a cabeça. Que o diga a Cristina, que esta madrugada, enquanto nos deitávamos, verteu uma lágrima de nervosismo e ansiedade, à mistura com um pouco de emoção e medo. Saber que daí a umas horas, algo de tão importante vai acontecer é bem mais stressante do que ser apanhado "desprevenido"; perguntem aos fulaninhos que já passaram pela guilhotina, que eles vos dirão como é...Apesar do choro, acalmei a Cristina, e a noite até correu bem, com calma e serenidade. Depois de acordar, é que mais pareceu um episódio da série "24". E lá fui eu, qual Jack Bauer, numa missão radical...
-08h02: despertar assim meio p'ró ensonado, do género "quem sou eu? o que faço aqui? porque é que a minha mulher tem uma barriga tão grande e está com um sorriso assim p'ró nervoso?".
-09h31: o prestável Pepi (o meu primo Anselmo) vem buscar-nos.

-09h39: chegada às Urgências do Hospital Central do Funchal, vulgo "Hospital da Cruz de Carvalho".

-09h41: a Cristina passa pelo crivo da triagem... o famoso "Protocolo de Manchester".

-09h43: admissão e consequente subida ao 4º piso, Obstetrícia. Enquanto isso, aguardo na sala de espera, onde pude ir apreciando as mudanças físicas e organizacionais operadas no Serviço de Urgências. Da última vez que ali tinha estado, as coisas eram bem diferentes, e para pior; felizmente, alguém decidiu que era necessário melhorar...

-10h25: primeiro pedido de informações. A Cristina estava em observação, a fazer um CTG, ou cardiotocografia, aquele exame em que a grávida tem um conjunto de cintos com sensores à volta da barriga, ligados a um monitor que verifica os batimentos cardíacos do bebé e mede as contracções do útero.

-10h35: leitura do que estava à mão, neste caso o desprezível "Jornal da Madeira", órgão oficial do regime, e disponibilizado gratuitamente (à custa dos nossos impostos) nos serviços públicos regionais.

-11h00: cafézito da praxe na máquina automática. Entretanto, e já cansado de jogar ao Solitário no meu PDA, passei os olhos com atenção pelo resto da sala de espera: semblantes carregados, olhos inchados, impaciência e preocupação na voz de quem busca informações sobre os seus entes queridos.

-11h35: segundo pedido de informações. A Cristina continua em observação, e ainda nada está decidido.

-11h58: liga-me a Cristina. Já posso subir. Vão induzir o parto. Reconfirmo com o balcão de informações e recebo a senha que me dá acesso. De referir a simpatia e amabilidade das duas funcionárias que estavam no apoio e informações da sala de espera, sempre muito solícitas.

-12h04: subo ao 4º piso. Lá está a Cristina, com a sua nova indumentária toda sexy, batinha cor de rosa com abertura atrás. No acolhimento à sala de indução, damos de caras com uma enfermeira com a pdm (p*ta da mania), extremamente arrogante e nada acessível, e que se tornou talvez no único ponto negativo daquele serviço; enfim, há gentalha daquela em todo o lado...

-12h50: a médica inicia o processo de indução do parto, através da aplicação de um gel próprio.

-13h45: "rebentam as águas" à Cristina.

-14h07: como as coisas ainda vão levar algum tempo, e por sugestão da Cristina, que começou então a ser monitorizada em permanência através do CTG, vou almoçar. Tentei apreciar ao máximo o prego no prato, mas a minha mente estava naquela sala de indução do 4º piso.

-14h50: regresso à sala de indução, onde ajudo, com o meu apoio moral, a Cristina a passar pela montanha russa das contracções. Ia-lhe dizendo as percentagens da intensidade das contracções, por forma a que ela pudesse ir avaliando, de forma quantitativa, até onde elas subiam.

-15h15: eis que nos aparece na sala uma nova enfermeira, que havia entrado aquando da mudança de turno, pelas 15h00. O oposto da anterior: bem-disposta, brincalhona, afável e muito prestativa. Uma agradável surpresa.

-15h40: a enfermeira espanta-se quando a Cristina lhe diz que não quer epidural. De facto, falámos sobre o assunto, eu e ela, e também achei que ela podia prescindir daquele método, pois, não obstante os benefícios do mesmo, havia sempre que ter em conta as possíveis contra-indicações, especialmente eventuais problemas nas costas; e enfim, já se sabe como são as chatices com as costas... A enfermeira pede-me para sair da sala por momentos, e diz que vai "fazer uma maldade" à Cristina, a ver se as coisas progridem mais rapidamente (remédo santo, essa "maldade")... Regresso à sala e a Cristina lá vai arfando com as contracções. A dada altura, começa a fraquejar no desejo de não querer a epidural. As dores têm destas coisas...

-16h12: a Cristina começa a sentir uma vontade do caraças de proceder à evacuação de necessidades de carácter sólido, o vulgar "nº 2". Chamo as auxiliares, e a enfermeira aparece também.

-16h20: a enfermeira sai da sala de indução e dispara à queima-roupa "Toca a ir para a sala de partos!". Ia caíndo de rabo! Nisto, vinda do nada, aparece uma auxiliar com uma cadeira de rodas, a Cristina abanca-se nela (na cadeira, não na auxiliar...) e toca a rodar. Nisto, a enfermeira chama-me à entrada da área das salas de partos e enfia-me uma bata. Chegou o momento da verdade! Entro na sala de partos nº 6, e lá está a minha mulher em cima da marquesa, com uma perna para cada lado, numa posição altamante sugestiva... Começa tudo. A enfermeira-parteira vai pedindo força, e a Cristina não desilude. Geme, respira pesadamente e range os dentes. Eh!, gaja de tomates!
-16h30: a "hora H". Nasce Catarina Francisca Sousa dos Santos, que ficará célebre na História por feitos de grande valor. Todos nós na sala sorrimos de satisfação, enquanto a Cristina esboça um misto de sorriso com esgar de "f*da-se! 'tou toda rebentada". Mãe e filha estão óptimas... e eu aguentei-me. "Ah valente!,", penso para mim mesmo, "estiveste bem!". A bébé é limpa, pesada (3,555 kgs! uma matulona... às tantas, vai sair ao pai e à madrinha, duas gruas), sumariamente examinada pela pediatra (por causa de uma pequena lesão na clavícula, coisa de somenos importância, fruto do seu tamanho, mas assim que ouvimos "é preciso chamar a pediatra para ver o que se passa", é claro que sentimos alguma apreensão...), vestida e posta nos braços da mãe, que sorri de felicidade. Entretanto, há que coser um rasgãozito de nada na mãe, e a Xica passa para os braços do pai. Foi uma ocasião extasiante, ter a minha filha junto de mim. Confesso até que me senti inebriado pela paternidade e foi a muito custo que lá contive uma lágrima. Depois de coser a Cristina, a médica nota uma pequena hemorragia proveniente do útero; mais umas rugas de preocupação na minha testa... Pelo sim, pelo não, diz que convém ficar uma hora ali na sala, em observação, a ver se não será necessário algo mais. A Xica começa a protestar, pois à conta daquele capricho da "sôdotora", está cheia de fomeca e não pode atacar no leitinho; já estou a ver que terei uma Mafalda cá em casa...
-18h05: as coisas afinal parecem estar bem encaminhadas, e já podemos ir para uma enfermaria na zona nascente do 4º piso, a secção de puérperas. A cama 21 da enfermaria 7 será, nas próximas 48 horas, sensivelmente, o local de repouso e recobro da Cristina e da Xica. E eu lá vou fazendo os primeiros contactos: a minha irmã Catarina (e madrinha da Xica), os meus pais, o meu primo Henrique (padrinho da Xica) e o Pepi. Envio igualmente alguns SMS's, mas, azar dos azares, deixo de ter rede...
-19h10: saio para ir buscar o resto das coisas da Cristina e da Xica, e aparece a minha irmã. 'Tavas danadinha para ver a miúda, ó Casquinha, ai 'tavas, 'tavas...
-19h36: regresso juntamente com o meu primo Pepi, que é quase como um tio para a Xica, que assim pode ver ao vivo e a cores, pela primeira vez, a "sementinha do Mal" cá do Zé. Apanho a Casquinha toda embevecida... Pois é, rapariga, os bébés têm dessas coisas: deixam-nos com um ar de parvos felizes.
-20h15: deixamos a extenuada mãe e a sonolenta filha, que assim podem finalmente começar a descansar depois das cansativas atribulações.
-20h25: chego a casa exausto, é certo, mas muito, muito FELIZ!
-20h30: nem posso pensar em ir ao WC, e já começam os telefonemas e SMS's de parabéns...

E amanhã... há mais!

Para alegrar a vista, cá vão uns retratos da minha coisinha mai'linda:




E aqui, as duas mulheres da minha vida (a Xica, coitadinha, estava toda encapotada no berço):
Amanhã prometo-vos mais "bonecos". Algo me diz que tenho de começar a pensar em arranjar uma drive externa para ir enchendo de fotos...
Papi
P.S.: Um abraço muito especial ao meu primo Flávio, que faz hoje (precisamente hoje) anos, e que, daqui a umas semanas, conhecerá as sensações que experimentei hoje... Abençoados nós, os homens que são pais.

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